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Uma Noite de Rainha - Parte II

  • Foto do escritor: Garçonete
    Garçonete
  • 22 de mai. de 2018
  • 4 min de leitura

Foram meses indo e voltando de Ventobravo e eu estava agora retornando com o último item da lista cumprido: Floresta do Crepúsculo.


Minhas apresentações na porta do castelo já não eram mais necessárias e eu apenas passava cumprimentando os guardas a postos naquele turno.


Quando cheguei a sala do trono, encontrei Marcus.


- Jezellia! Quanto tempo, voltando de missão de novo?


- Olá Marcus. Sim, estou voltando da última missão. – olhei para o trono e vi que estava vazio – Jardim?


- Ah não, não dessa vez. – Marcus disse abaixando a cabeça – O rei foi visitar o túmulo de seu pai.


- Certo, acho que vou até lá prestar minhas condolências e acompanho o rei de volta.


Marcus apenas acenou em concordância.


Estava anoitecendo quando saí do palácio e o sol avermelhado no horizonte não poderia ter deixado a cena do rei contemplando o túmulo de seu pai mais triste e ao mesmo tempo tão bela.


Me aproximei com cuidado, e soltei um leve pigarro, não queria assusta-lo.


- Com licença, Majestade.


- Ahhh Jezellia, é você! Que bom vê-la novamente! – ele disse com certa alegria, mas seus olhos o traiam.


- Varian foi um rei muito honrado. – eu disse – Liderou a Aliança com muita sabedoria e força. Foi, acima de tudo, um exemplo para todos nós. Varian se sacrificou pelo nosso povo e pelo nosso futuro, e agora você continua de onde ele parou. E preciso dizer, Majestade, que você está fazendo isso de forma brilhante.


O rei se virou para mim, olhou no fundo dos meus olhos e disse:


- Sabe Jezellia... já passou da hora de você parar de me chamar de Majestade.


- Desculpe Majest... digo... desculpe. É muito difícil pra mim. - respondi meio sem graça – Bom, já está na hora de voltar, eu o escoltarei até o castelo.


O rei então voltou novamente a encarar o túmulo e orou.


- Que a Luz esteja com você agora, meu pai. – e virando para mim completou – Vamos então.


O céu já estava escuro e uma linda e enorme luz cheia brilhava no alto. O Caminho de volta foi silencioso, mas não desconfortável.


Quando chegamos à porta do castelo, desci da minha égua e prontamente fui ajudar o rei a descer do cavalo dele. Estava escuro e não percebemos que algo na sua roupa havia enganchado na sela do animal. Quando o rei deu impulso para descer do cavalo a roupa o segurou e ele caiu de mau jeito no chão soltando um grunhido.


- Majestade! O senhor está bem?


- Ahhh que droga! Sim, eu estou, mas acho que devo ter torcido o pé, não parece grave.


- Me desculpe, eu deveria ter impedido isso, eu...


- Pare Jezellia, não tem pelo que se desculpar, eu que saí de mau jeito do cavalo. Me ajude a andar. Assim que conseguir entrar eu invoco a Luz para curar isso.


- Claro, como quiser. Pode se apoiar em mim.


Conduzi, então, vossa Majestade até seu quarto e preciso dizer... que quarto! Tinha uma enorme cama com lençóis que brilhavam transparecendo a alta qualidade do tecido. As paredes quase não existiam, estavam escondidas por estantes cheias de livros e artefatos mágicos.


Haviam mais duas portas no quarto, uma dava para uma varanda linda e aconchegante e a outra eu não saberia dizer... um banheiro talvez?


Sentei o rei na poltrona azul com um leão dourado bordado no encosto e não pude deixar de notar uma jarra transparente com um líquido escarlate dentro e copos de cristal a sua volta.


Enquanto o rei tirava a bota para analisar o estrago e conjurar o que quer que fosse para concertar seu tornozelo eu apenas comentei num tom malicioso.


- Então quer dizer que sua Majestade toma bebidas alcóolicas?


- Ora, e não poderia? O médico do rei disse que posso tomar um cálice por noite e que faria bem a minha saúde, mas não fico em bares enchendo a... hum... como é que se diz mesmo?


- Enchendo a cara?


Ele coçou o queixo e respondeu


- Caneca... enchendo a caneca de cerveja.


Eu ri, ele pareceu tão inocente e frágil diante o terrível mundo dos bares e tavernas.


- Alias... senhorita Jezelia, poderia nos servir de um copo de vinho?


- Com todo respeito, Vossa Majestade, depois de hoje eu me serviria de uns dez copos de vinho.


Ele riu, mas não contestou e com a benção do rei eu nos servi de mais um copo.


- Como está o tornozelo?


- Novo em folha! - ele disse sorrindo já com as bochechas rosadas.


É... com certeza Vossa Majestade nunca tomou mais de um copo de vinho.


E depois mais um... e mais um...


Estávamos na varanda, apoiados com os cotovelos na cerca de pedra que a delimitava, admirando a noite fria, mas gostosa. Abaixo dava para ver que algumas poucas casas ainda tinham luz e as tavernas ferviam de gente, música e animação.


A imensa Lua estava maravilhosa, brilhava tão forte e iluminava tudo tão lindamente, que quando percebi, estava encarando o rosto do rei.


- Acho que já está na hora de ir. – eu disse me dando conta de que estava imaginando coisas que não se deveria imaginar, especialmente com o rei.


Ele me segurou pelo pulso e me encarou. Eu fiquei pasma e hipnotizada, não sei se pelos olhos ou se pela bebida e acabei dizendo sem pensar:


- Alguém já disse como você é maravilhoso?


- Uma vez e para você? – ele respondeu depois de pensar alguns segundos.


Nossos olhos não pararam de se encarar.


- Ninguém que fosse especial. – eu respondi já meio ofegante.


Continua...



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