Uma Noite de Rainha - Parte IV
- Garçonete
- 18 de out. de 2018
- 3 min de leitura
Não lembro quando adormeci. Só sei que acordei com o sol entrando no quarto e pulei da cama quando me dei conta do que tinha acontecido.
Ele era lindo até dormindo. Isso é justo? Eu estava um bagaço, acabada e ele lá pleno e belo. Fiquei com inveja, confesso.
Estava procurando minha calcinha para me trocar quando ele acordou.
Ele se sentou na cama, olhou para a cama, em seguida olhou para as roupas no chão, depois olhou para mim e finalmente para a jarra de vinho.
Fiquei preocupada... ele nunca tinha bebido tanto vinho. Será que se lembrava?
Anduin então olhou pra mim novamente e sorriu.
- Espero que Sua Majestade não a tenha decepcionado.
Eu fiquei de boca aberta. Nem sabia como responder aquilo, mas qualquer pensamento que eu estivesse formulando foi brutalmente interrompido por umas batidas na porta do quarto.
- Majestade? – uma voz feminina e desgastada pelo tempo questionou.
A expressão do rei alterou-se na hora, foi de satisfação para preocupação. Bastou um olhar para eu entender. Corremos para nos vestir enquanto Anduin pedia um momento à senhora na porta. Tentamos arrumar a cama deixando o mínimo de vincos possíveis.
Enquanto ele escondia a jarra quase vazia, eu espalhava uns mapas e documentos pela mesa. Sentei-me na cadeira me forçando a observar os papeis com cara de preocupada enquanto ele abriu a porta.
- Olivia, que bom que chegou. Passamos a noite inteira trabalhando e estudando esses mapas. Estamos morrendo de fome. Poderia nos trazer o desjejum?
A criada pareceu meio desconcertada com a cena, mas se manteve discreta e respondeu.
- Como quiser, Majestade. Estará aqui em poucos minutos, mas na verdade, vim anunciar que o senhor Graymane estará aqui em breve para vê-lo.
Comi mais rápido do que achei ser possível. Se já não queria ter de encarar ninguém, imagine ter de encarar Graymane, aqueles olhos profundos, julgadores e impiedosos, eu certamente cederia e estaria escrito na minha testa “Desvirtuadora de Reis Bondosos”.
Enquanto engolia a comida, já não mais preocupada com o que o rei acharia das minhas maneiras à mesa, ele disse sorrindo.
- Sim, eu me lembro do que aconteceu e não, não me arrependo. Foi tudo muito bom.
- Eu que o diga. – foi a única coisa que consegui comentar antes de me lembrar de algo – Ontem você se lembrou de alguém, quando perguntei se alguém já havia elogiado você daquela forma.
Ele parou e suspirou.
- Desculpe, não é da minha conta.
- Não... não tem problema. Eu já estive com outra pessoa. Quer dizer, não era uma pessoa exatamente. A forma que ele toma é de um jovem de pele escura e olhos vermelhos. Foi ele...
Eu quase... QUASE cuspi o café.
- Wrathion? O dragão? O último descendente do Asa da Morte?
- Sim, mas ele não é como o pai.
- Não... não... você é fortemente abençoado pela Luz, se você diz, eu acredito. Além do que... você não me deve explicações, Majestade – eu completei enquanto fazia um reverencia debochada.
Ele riu em resposta.
- Bom... chegou minha hora. Preciso ir.
- Não tão rápido, paladina. Seus deveres com o reino não acabaram. Essa é a segunda lista de cidades para você averiguar.
- Oh, claro! Sim senhor, pode deixar comigo. – respondi enquanto enfiava um pãozinho na boca. – Ahhh, e só para você saber, nunca conheci um dragão pessoalmente, quando Wrathion aparecer, pode me convidar.
Foi um ato de total falta de controle falar aquilo e ainda dar uma piscadinha sacana para o rei. Ele poderia ter ficado bravo, sem graça, indiferente, mas ele respondeu:
- Ah! E Jezelia, quando vier a Ventobravo para deixar seus relatórios, passe aqui para tomarmos um vinho.
Tá... quem ficou sem graça depois dessa fui eu, mas apenas respondi um “Como quiser, Alteza.” com a boca cheia de mais um pãozinho.
Estava saindo pela porta do quarto e dei de cara com Graymane. Abaixei a cabeça e fiz uma leve reverencia enquanto passava e meu cérebro gritava “Não olhe pra ele, continue andando.”.
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- Bom dia, Majestade. – cumprimentou Graymane.
- Bom dia, Genn. – respondeu Anduin com um sorriso radiante no rosto.
- Você poderia disfarçar melhor, como a moça ali fez. Ainda bem que um de vocês é discreto.
Anduin ficou vermelho na hora.
- Estávamos apenas estudando estratégias.
- É mesmo? Sobre o quê?
- Bem... sobre... hum... a Floresta do Crepúsculo. – respondeu Anduin se lembrando do último relatório que Jezellia havia trazido.
- Deixe-me ver... cama arrumada as pressas, copos com resquícios de vinho e sem jarra a vista, roupa amassada, cabelo desgrenhado, sorriso no rosto e... esqueci de alguma coisa? Ah sim! Mapa de Nortúndria na mesa. Não sabia que a Floresta do Crespúsculo tinha se mudado.
Anduin desabou derrotado na cadeira.
- Sobre o que veio falar, Genn? – Questionou levemente emburrado.
Fim.

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